Se você prefere sentar na janela, provavelmente já conhece o debate acalorado sobre manter as persianas do avião abertas ou fechadas durante o voo. Deixaremos isso para você negociar com seu companheiro de assento, mas avisaremos que há dois momentos em que a persiana deve estar fechada: durante a decolagem e o pouso. Aliás, algumas companhias aéreas até exigem que ela esteja aberta durante essas fases do voo.
Alguns passageiros acham que é um capricho da tripulação, outros acreditam que seja uma exigência de “alguma lei”. Porém, a explicação vai muito além da mera etiqueta de bordo: trata-se de segurança — e da necessidade de ganhar preciosos segundos quando cada movimento conta.
Neste artigo você vai entender:
- Como colaborar ativamente com a segurança do voo.
- Como as fases de decolagem e pouso concentram até 65 % dos acidentes aéreos.
- De que forma as persianas do avião afetam a evacuação em até 90 segundos.
- Quais são as recomendações de organismos como ICAO, IATA e FAA.
- Que casos reais provaram o valor da janela aberta.

A importância crítica da decolagem e do pouso
Mas por que especificamente durante a decolagem e o pouso ? As persianas devem estar sempre fechadas durante a decolagem e o pouso, porque é nesses horários que incidentes ou acidentes têm maior probabilidade de ocorrer.
A maior parte de cada voo transcorre a 10 km de altitude, com o piloto automático engajado e clima previsível. No entanto, os primeiros e os últimos 10 minutos — a decolagem e o pouso — concentram a maior carga de trabalho da tripulação, tráfego intenso ao redor e menor margem para manobras. Consequentemente, as estatísticas de segurança mostram que cerca de dois terços dos incidentes se concentram nesses curtos períodos.
Em números absolutos, se algo der errado, haverá em média 90 segundos para que todos estejam fora da aeronave. Assim, qualquer processo que elimine obstáculos visuais faz diferença. Entre eles, está a simples ação de levantar a persiana da janela.
De acordo com relatórios da Airbus e da Boeing , as duas maiores fabricantes de aeronaves comerciais do mundo, a maioria dos acidentes fatais ocorre durante a decolagem, aproximação e pouso. Segundo o relatório da Airbus, “a aproximação e o pouso são fases de voo altamente complexas, que impõem demandas significativas à tripulação em termos de navegação, alterações na configuração da aeronave, comunicação com o controle de tráfego aéreo, espaço aéreo congestionado e condições climáticas degradadas”. A combinação desses fatores pode levar a um acidente.
O que são, afinal, as persianas do avião?
As persianas — ou shades, em inglês — são placas corrediças de plástico ou painéis eletrocrômicos que bloqueiam a luz externa. Diferentemente das cortinas de um quarto, elas fazem parte do chamado sistema de evacuação visível, um subconjunto do interior de cabine projetado para transmitir sinais visuais rápidos aos ocupantes. Portanto, não são mero acessório de conforto ou decoração.
Evolução tecnológica das janelas
Nos anos 1950, as persianas eram fixas. A partir da década de 1970, surgiram versões corrediças leves. Mais recentemente, modelos eletrocrômicos (como os do Boeing 787) escurecem ao toque de um botão, dispensando peças mecânicas. Apesar da tecnologia, a lógica de segurança continua idêntica: em fases críticas, tudo deve estar 100 % transparente.
Por que as persianas do avião precisam estar abertas?
1 — Visibilidade ativa da tripulação
Durante a corrida de decolagem ou a aproximação final, com as persianas abertas a tripulação pode verificar a presença de fogo no trem de pouso, combustível vazando pela asa ou destroços na pista. Caso detecte algo, o comissário avisa o comandante por interfone. Além disso, o piloto pode olhar para a cabine pelo “olho-mágico” da porta e confirmar o relato.
Se um avião fizer um pouso de emergência e todos a bordo precisarem evacuar a aeronave, é crucial conseguir ver o que está acontecendo lá fora. Após um pouso de emergência, a primeira coisa que um comissário de bordo faz é olhar pela janela da porta onde está sentado. A porta pode estar obstruída por detritos ou pode haver incêndio, então o comissário redirecionará os passageiros para uma saída utilizável.
2 — Detecção de perigos pelos próprios passageiros
Embora os comissários tenham treinamento militar em segurança, eles não conseguem ver todo o avião ao mesmo tempo.
E é por isso que é tão importante que os passageiros na fileira de saída de emergência deixem as persianas abertas. Os comissários de bordo contam com a ajuda dos passageiros nas fileiras de saída de emergência, que precisam olhar pela janela antes de abrir a porta. Se a asa for arrancada, por exemplo, essa não é mais uma saída viável.
3 — Adaptação rápida da pupila
Imagine sair de um cinema escuro para o sol do meio-dia: seus olhos demoram até 30 segundos para ajustar a luminosidade. Portanto, ao manter o interior iluminado pela luz natural, todos já pousam com a visão adaptada. Isso reduz tropeços, ajuda a localizar a trilha de escape inflável e evita choques contra bagagens no corredor.
4 — Referência externa para equipes de resgate
Carros de bombeiro e ambulâncias observam se há chamas, fumaça ou fluido escorrendo pelo casco. Consequentemente, quando as janelas estão sem obstruções, bombeiros conseguem escolher rapidamente por onde aproximar a escada, economizando segundos vitais.
5 – Evacuação em 90 segundos
Desde 1965, ensaios de certificação de aeronaves simulam incêndios em cabine. O padrão ouro é esvaziar todo o avião em 90 segundos, usando apenas metade das saídas. Assim, cada micro-ação importa: destravar cinto, levantar bandeja, alinhar poltrona e abrir persiana.
Embora o ato de abrir uma persiana possa levar apenas um ou dois segundos, o tempo é essencial em um pouso de emergência — os comissários de bordo precisam ser capazes de evacuar um avião em menos de 90 segundos.
E porque as janelas do avião são redondas e tem buracos?
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Olhar pela janela de um avião enquanto você está voando é algo espetacular e, a menos que você seja piloto ou comissário de bordo, provavelmente não consegue ter uma vista aérea de nuvens, montanhas ou cidades todos os dias. Você já pensou na pressão exercida sobre aquela fina vidraça que o separa da imensidão do céu?
Felizmente, os engenheiros que projetam aeronaves levam em conta todas essas questões relacionadas à física para tornar os aviões um meio de transporte muito seguro. É por isso que você pode notar um pequeno furo em cada janela do avião. Esse furo, conhecido como orifício de sangria, é um elemento crucial na estrutura, pois ajuda a regular a pressão do ar.
A pressão atmosférica e a quantidade de oxigênio no ar diminuem à medida que nos elevamos acima do nível do mar. E baixa pressão atmosférica e oxigênio limitado não são ideais para humanos. É por isso que os aviões são pressurizados — para nos manter vivos e confortáveis durante toda a viagem.
Por isso o formato das janelas: as janelas de avião são redondas porque a pressão é distribuída de forma mais uniforme sobre um formato arredondado. Há também o orifício de sangria, projetado para ajudar a aliviar parte da pressão exercida sobre a janela.
Uma janela de avião, na verdade, tem três painéis: um painel externo para lidar com a diferença de pressão do ar; um painel central com o orifício de sangria, aquele pequeno orifício que você vê, que ajuda a equilibrar a pressão do ar; e um painel interno fino, também chamado de painel antirrisco, que ajuda a proteger o painel central e o externo contra danos causados pelas atividades na cabine do avião.
Então, o que aconteceria se um desses painéis quebrasse? Felizmente, não muito. Mesmo que uma das camadas se desprendesse, o outro painel suportaria o estresse. E se o vidro interno, ou vidro antirrisco, quebrasse, absolutamente nada aconteceria, já que é apenas um protetor contra riscos e não um elemento estrutural.
Casos reais em que a persiana aberta salvou vidas
Incident BA38 (Heathrow, 2008)
Um Boeing 777 perdeu potência e pousou curto. Graças às persianas do avião abertas, o comissário da porta L2 viu combustível vazando da asa esquerda e bloqueou imediatamente aquela saída, redirecionando todos para o lado direito. Nenhum ferimento grave foi registrado.
Fonte: gov.uk AAIB Report
Acidente Asiana 214 (São Francisco, 2013)
O 777 tocou a pista abaixo da rampa e a cauda se quebrou. Passageiros alertaram a tripulação sobre fogo na asa esquerda ainda antes de qualquer alarme soar na cabine. Consequentemente, as portas do lado esquerdo permaneceram fechadas, evitando que a evacuação fosse diretamente para as chamas.
Fonte: NTSB Report AAR-14/01
Fogo no motor Boeing 767 Lauda Air (Bangkok, 1991)
Na época, não havia regra de persianas no país. Infelizmente, testemunhas relataram dificuldade de reconhecimento do fogo no motor. O acidente levou autoridades asiáticas a adotar a política de janelas abertas.
Fonte: Baixe o relatório completo em PDF (via Aviation Reports Archive)
Conclusão
Em aviação, procedimentos aparentemente banais escondem camadas profundas de engenharia, estatística e experiência operacional. Assim, manter as persianas do avião abertas durante decolagem e pouso não é capricho: é a peça final de um quebra-cabeça de segurança que envolve treinamento de tripulantes, regulamentação internacional e, principalmente, a colaboração do passageiro bem-informado — que agora é você.
Na próxima viagem, levante a persiana com convicção: você pode não perceber, mas esse simples gesto ajuda a transformar os 90 segundos mais críticos de um voo em uma história bem-sucedida.







